segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Vitrine Especial Parte II : A formação do eu

Uma história pessoal e social

Vamos seguir agora outra viagem. Já falei um pouco sobre as perguntas que me veem na cabeça, sobre como e quando se deixa de ser criança no post Sessão deprê : Quando o amor passou a ser tão importante?   .Nesse mesmo texto eu falo sobre as mudanças fisiológicas que nós preparam para a maturidade. 

Aqui eu quero falar um pouco sobre a minha perspectiva a respeito da criação da personalidade, e os aspectos que interferem no caminho que a pessoa seguirá na vida como um todo. Bem, vamos começar explanando um pouco sobre o diferença entre uma criança e um adulto, acredito que primeiramente vem a responsabilidade. Uma criança não é responsável pelas suas atitudes, estão livres de qualquer encargo mais vigoroso, seja por falta de conhecimento, destreza, personalidade ainda não formada. Crianças tem todo tempo disponível para se divertir e sonhar de todas as formas.


Para os adultos suas atitudes tem consequências que podem interferir na sua vida. Todo cuidado é pouco e pensar mais de uma vez antes de tomar um caminho é crucial. A diversão é um momento ímpar, muito desejado, e momentos de descanso são verdadeiras dádivas do tempo.

Em segundo lugar vem a quantidade de coisas que amamos, quando somos crianças, tudo é muito especial, tudo é novo. No filme Guerra ao terror em uma cena William James (Jeremy Renner) fala com seu filho sobre essa diferença.


"Quando se é criança, amamos quase todas as nossas coisas, mas quando envelhecemos , as coisas que amamos vão diminuindo ate´sobrarem uma ou duas, para mim, uma apenas ". As coisas que um dia foram especiais, agora se tornam comuns, não nos importamos mais tanto assim com elas, até que, quando percebemos, viramos pessoas de uma amor ou dois.

Bem, para ser adulto, geralmente você precisa alcançar autossuficiência, que seria quando o indivíduo consegue pagar as próprias contas, ou seja, você precisa de uma profissão, uma ocupação que te dê um retorno financeiro. 

Digamos então que no percurso da vida, por algum motivo você se torna um professor ou um médico, advogado qualquer coisa. Mas vamos falar um pouco sobre a profissão mais importante de todas, o professor. 

Maurice Tardif em seu livro Saberes docentes e formação profissional fala sobre As fontes pré-profissionais do saber-ensinar : uma história pessoal e social.
As pesquisas de Lessard & Tardif (1996) e Tardif & Lessard (2000) onde os professores falaram da origem infantil de sua paixão e de sua opção pelo ofício de professor.

Eu era bem pequena e já sabia que ia ensinar. Era
um sonho que eu queria realizar de qualquer jeito.

Acho que era uma coisa visceral, que estava den-
tro de min, eu nunca pensei que popderia fazer 
outra coisa

Os professores quando perguntados sobre a origem de suas carreiras atribuem em muitos casos à sua própria "personalidade" ou à sua "arte", essas pessoas parecem estar se esquecendo justamente de que essa personalidade não é forçosamente "natural" ou "inata", mas é, ao contrário, modelada ao longo do tempo. Outros professores falam sobre inspirações vindas da própria família, dos seus professores ou amigos.
Tardif fala em seu livro sobre o processo de formação do profissional como uma ação da socialização, sendo este "um processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de vida e comporta rupturas e continuidades.", ou seja, (fiz uma adaptação aqui do texto de Tardif para as profissões como um todo) "Ao longo de sua história de vida pessoal e social, supõe-se que o futuro "adulto" interioriza um certo número de conhecimentos, de competências, de crenças, de valores, etc., os quais estruturam a sua personalidade e suas relações com outros e são reatualizados e reutilizados, de maneira não reflexiva mas com grande convicção, na prática de seu ofício.". Essa interiorização de valores, tem seus efeitos durante todos os momentos da vida.

Muitos autores, filósofos e sociólogos na história discutem sobre o que Tardif aborda nessa parte do livro "O eu social", que é a sequência de acontecimentos no ambiente social, através dos quais será moldada a personalidade do indivíduo, processo este, que vai interferir nas suas escolhas durante a vida adulta. Isto é, você é o que foi levado a ser, suas interações com os outros formaram a sua personalidade, seu modo de pensar, em outras palavras, você é os outros.

O grupo Novos Baianos fala sobre essa perspectiva de formação do sujeito na música "O mistério do planeta"




E atenção que é hora da revisão!

Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta

De acordo com minha hermenêutica a música fala que durante a vida nos processos de interação entre indivíduos e grupos, existe uma aprendizagem mutua onde parte do outro fica comigo e parte do eu fica com o outro. O mistério do planeta do qual fazemos parte, no processo de socialização é justamente a formação do eu e do outros, é o compartilhamento. O mistério do planeta é um todo que ao mesmo tempo é um só. Já falei aqui sobre a concepção coletiva de mundo, onde tudo está ligado, onde não existe duas ou mais coisas, somos todos partes de um mesmo no texto Meu papel no mundo: Jim carrey e seu livro para crianças.

Eu vi no Papo de homem um texto que fala sobre a expressão Sawubona que quer dizer "eu vejo você" que a resposta seria “Ngikhona” ou “Sikona”, algo como “Eu estou aqui”, ou ainda “Yebo sawubona” (“Eu vejo você também”). Filosofia esta maravilhosamente bem expressa na grande obra de James Cameron, Avatar. Onde temos a grande árvore "mãe de tudo" Eywa que é descrita como “uma rede de energia” que “flui através de todas as coisas viventes”.
O mesmo post fala sobre a ética Ubuntu uma filosofia africana que existe em vários países, representada na expressão “Umuntu ngumuntu nagabantu” (em zulu: “Uma pessoa se torna uma pessoa por causa das outras” ou “Sou o que sou porque somos quem somos”.

Neste link temos o vídeo que também está no site citado mais acima, onde o educador e líder comunitário Orland Bishop fala sobre sua visão sobre sawubona!(no link é possível ativar a legenda em português).



Eu acredito muito nessa óptica, formação do indivíduo e da sociedade que foca nas alianças e relacionamento das pessoas umas com as outras. Vão! sejam vocês, sejam os outros, Sawubona!






2 comentários:

  1. As famosas relações de alteridade, rs. Achei curioso não terem mencionado Durkheim na ótica trabalhada.

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